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A sociedade do policiamento

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Vá até o IMDb (banco de dados de filmes) e procure algum filme policial. Faça o filtro: que contenha algo relacionado à Corte, Juri ou coisas do tipo. Então vá até a locadora e alugue, ou procure em qualquer site de download gratuito. Em algum momento, algum policial com queixo quadrado, óculos Rayban ou uniforme milimetricamente passado dirá: “Qualquer coisa que fale pode ser usado contra você, no Tribunal”.

A frase soa legal, imponente. Mas, fora do circuito criminal, seu contexto está amplamente descaracterizado. Basta uma opinião mais forte e você está fadado a ser condenado. O julgamento? É feito por muitos, que podem (e provavelmente) estão conectados com você, virtualmente. Todo mundo hoje em dia tem um quê de Juiz. Com isso, crescem as opiniões, que se transformam em informações – por muitas vezes equivocadas -, que influenciam outras pessoas e lá no final, temos um emaranhado de nada.

Analogicamente, voltamos ao pré-escolar: comunicação difícil, entendimento muito pior. Em dado momento, esse grupo de pessoas resolve brincar com… massinha de modelar. Cada um tem seu bastão de massinha colorida. Pobre daquela mesinha de plástico branca, que fica com restos dessa brincadeira nas diversas cores. Se pegar tudo isso e juntar, em uma única bola uniforme, veremos uma massa disforme e sem cor definida.

Quando há muita informação difusa, sem filtros ou verificação dos fatos, ocorrem os conflitos. Multiplique essa ação pelo número de contatos que você possui nas redes sociais, e os contatos que seus contatos possuem, ad infinitum. O resultado disso é uma hecatombe de idéias que não se complementam, e que também estão a mercê de julgamentos dos mais diversos tipos pois, afinal, todos somos Juizes.

E isso tende a piorar. Imagine se alguém diz que a brincadeira do Fuca Azul possa causar apologia à violência. Um grande debate online acontece, com prós e contras,
compartilhamentos pelo Facebook, trending topics no Twitter e por aí vai. Então alguma pedagoga em fim de carreira é convidada para um importante tele-jornal. “A brincadeira do Fuca azul tem que ser banida da sociedade, pois incita a violência em crianças, que podem ser agravadas e torná-los criminosos de grande potencial”. Uau!

Daí o Fantástico faz uma matéria com gráficos ilustrados, opiniões de especialistas e, então, alguém cria uma entidade, a Associação Contra a Violência da Brincadeira dos Fucas Azuis, a ACVBFA. A presidente Dilma, em um discurso em Manaus (sempre é no Norte, reparem) se manifesta, dizendo que “no que se refere a brincadeira dos fucas azuis, devemos tomar providências para que não sejam criados maus cidadãos brasileiros, assegurando a saúde do nosso País”. Por fim, o INMETRO ordena a retirada de circulação do pigmento ciano das fábricas de tintas automotivas e está assegurado o futuro do Brasil.

Simples assim, né? É só compartilhar. Ou por a hashtag.

Written by Cisco

janeiro 19, 2012 às 1:41 pm

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