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Quanto vale sua música?

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Dias atrás, um dos maiores produtores do Brasil deu mais um show de moralismo boçal e mercadológico que um produtor frustrado poderia dar, frente aos 140 caracteres do Twitter. Entendo perfeitamente sua frustração. Afinal, o citado lançou uma das maiores bandas dos anos 90, que lançou um único disco com 2 milhões de vendagens e que chegava a fazer 3 shows por dias, em meados da década passada. Nunca em sua vida o tal produtor deve ter ganhado tanto dinheiro. Imagino-o desbravando as várias ilhas do Rio de Janeiro, a bordo de um lindo iate americano branco, com champanhas caríssimas em seu frigobar e sua conta bancária com dezenas de dezenas. É compreensível que seja frustrante viver no século vinte e um sem champanhas, iates ou cifrões.

O mercado fonográfico mundial passou por sérias transformações, de lá pra cá. A ascensão da internet, o share de músicas ripadas dos CD’s, o Napster, blá blá blá. A indústria da música sofreu severas perdas financeiras, mas em compensação, contavam com um aliado que insistiam em dizer ser letal. A internet surge para disseminar ainda mais a cultura e a força de expressão musical, que antes era restrita aos que tinham bons contatos e um contrato assinado. A música passou a ser mais heterogênea: milhares de artistas abusam de tecnologias sonoras acessíveis e criam música. A livre expressão da arte corre solta. Aos artistas que fazem música por simples prazer, pouco importa o quanto vale cada canção. O importante é que haja um receptor que entenda aquilo.

 

Mas quantos discos preciso vender?

 

Segundo a American Society of Composers, Authors and Publishers, a porcentagem de royalties que o artista ou o compositor obtém em cada disco vendido gira em torno de 10%. Esse número, no Brasil, chega aos irrisórios 5%. Digamos que você seja um comerciante comum, onde vende coisas que não são adquiridas com seu capital e, portanto, não são suas. Você vende-as e sua comissão chega aos mesmos 5%. Nada de processo criativo, horas de estúdio ou músicas feitas com o coração. Os mesmos cinco que são aplicados ao comércio comum são aplicados a você que é músico. O resto, tudo para custear material e, é claro, pra gravadora. Frustrante, não? Mas a música não se trata apenas disso.

Os shows são a base de lucro de um artista e de sua gravadora, no terrível mundo da internet. Para isso, existe um percentual mais determinado, chamado de cachê. Para o show obter êxito, é necessário que milhares de fãs apaixonados pelo artista se predisponham a pagar pra assistir. Estes fãs tem que ter um acesso, digamos, mais facilitado de sua obra. Recorrem à internet, baixam todos os seus CD’s e decidem gastar alguma graninha no seu show (ou até em merchandising, que já é outra história). No Brasil, temos o grupo musical-teatral O Teatro Mágico, que liderou por muito tempo a parada de downloads do site Tramavirtual. Mesmo assim, lotam shows em quase todas as cidades que passam, sem a venda forçada de discos físicos. Está tudo disponível na internet, gratuitamente.

E você nem precisa mais adquirir música em formato físico. Nos Estados Unidos, a loja virtual iTunes movimenta algo em torno de 300 milhões de downloads por mês. Entretanto, no Brasil são fracos os investimentos na área. Nos EUA, o sucesso da iTunes é explicado com apenas uma palavra: facilidade. A mesma facilidade que temos em baixar um disco inteiro, os americanos tem para comprar mp3. Basta um simples cadastro de seu cartão de crédito na Apple Store e pronto. Por míseros US$0,95 debitados em sua fatura, você compra uma música. Já parou pra pensar quando essa evolução tecnológica chegará por essas terras?

Mas não pense que o mercado musical dos States é homogêneo, com a vendagem de músicas. A banda que lidera as paradas de downloads por lá é o A Day to Remember. E eles não tocam country, rap, R&B ou qualquer tipo de gênero popular vendável. Fazem um metal com hardcore (metalcore) agressivo, pra poucos ouvidos, provando que a indústria do áudio não é movimentada apenas por produtores, empresários, dinheiro ou downloads. Ela depende dos músicos.

E até que eles deixem de se preocupar em tocar-pra-vender e façam algo que seja inovador e sincero, o mainstream continuará correndo em círculos, mordendo seu próprio rabo.

http://entertainment.howstuffworks.com/music-royalties6.htm

http://www.ascap.com/musicbiz/money-recording.html

http://en.wikipedia.org/wiki/ITunes_Store

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u414584.shtml

ANDERSON, Chris – A Cauda Longa [2006, Editora Campus]

Written by Cisco

novembro 17, 2010 at 1:28 pm

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